RAÇAS OVINAS
Karakul: estudos resgatam raça ovina milenar no Brasil
Com origem na Ásia Central, o Karakul se destaca pela rusticidade e baixa exigência de manejo, despertando novo interesse entre criadores brasileiros
Foto: Divulgação l Cabanha da Divisa
A raça ovina Karakul é considerada uma das mais antigas do mundo, com registros de criação datados de 1400 a.C. Natural das regiões áridas da Ásia Central, como o atual Uzbequistão, norte do Irã e do Afeganistão, o Karakul se destacou historicamente pela produção da valiosa pele “astrakan”, usada na confecção de roupas e acessórios de luxo.
Além do prestígio comercial, a rusticidade sempre foi o maior trunfo da raça. Segundo Ramiro Oliveira, pecuarista e sócio-proprietário da Cabanha da Divisa, empresa especializada na criação e venda de ovinos de alta genética, o Karakul apresenta notável capacidade de adaptação a diferentes climas e resistência a enfermidades como verminoses e foot rot.
A cauda que alimenta em tempos difíceis
Um dos traços mais marcantes do Karakul é a cauda, ou “cola”, extremamente volumosa. Esse acúmulo de gordura tem papel essencial na sobrevivência dos animais em períodos de escassez alimentar, funcionando como reserva energética. “É dela que o Karakul se alimenta quando o pasto escasseia”, explica Ramiro.
Embora em alguns países essa gordura seja usada na produção de cosméticos e pomadas, o foco atual no Brasil é o resgate da raça e o aproveitamento de suas características produtivas para cruzamentos industriais.
Foto: Divulgação l Cabanha da Divisa
Resgate e pesquisa no Brasil
A chegada do Karakul ao Brasil ocorreu em 1914, via Argentina, e depois em 1931 no Rio Grande do Sul. Contudo, sua criação se tornou rara ao longo das décadas. Hoje, iniciativas como as da Cabanha da Divisa buscam retomar sua valorização. “Resgatamos o registro da raça junto à Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO) e estamos comercializando reprodutores, inclusive para uso em cruzamentos no norte do Brasil”, afirma Ramiro.
O objetivo principal é mostrar que o Karakul continua presente e tem muito a oferecer à ovinocultura nacional. O trabalho inclui estudos de adaptabilidade e viabilidade econômica do uso da raça em diferentes regiões e sistemas de produção.
Potencial produtivo e baixo custo de criação
Além da resistência natural, o Karakul exige um custo de manutenção significativamente mais baixo quando comparado a outras raças. Esse diferencial torna a raça atrativa para cruzamentos, especialmente em regiões com condições ambientais mais desafiadoras. “A rusticidade passada aos cordeiros reduz o custo de produção e amplia a viabilidade econômica da atividade”, destaca o criador.
Uma raça rara, mas cheia de possibilidades
Atualmente pouco conhecida pela maioria dos criadores brasileiros, a raça Karakul reúne características que podem contribuir para sistemas produtivos mais sustentáveis, especialmente em regiões com condições ambientais desafiadoras. Sua rusticidade, baixo custo de manutenção e capacidade de adaptação fazem dela uma alternativa viável para cruzamentos e estratégias de produção com foco em eficiência.
Estudos recentes e ações de preservação reforçam o valor genético e histórico dessa raça milenar. Ao mesmo tempo em que resgatam sua importância no cenário nacional, essas iniciativas abrem caminho para o fortalecimento da diversidade genética e para o aproveitamento de linhagens que, apesar de raras, ainda têm muito a oferecer à ovinocultura brasileira.